header_paralax

Empreendedor de Propósito

Conheça o nosso curso
Às vezes, o mais simples é o mais eficiente

Salve salve empreendedoras e empreendedores. Naiser por aqui.

 

Nós empreendedores nos treinamos para saber identificar sempre a melhor forma de fazer uma mesma tarefa. Isso envolver buscar por processos mais eficientes, gerenciar melhor o nosso tempo, aprimorar nossa comunicação, avaliar e reavaliar os resultados das nossas atividades. Não é incomum um empreendedor buscar reinventar a roda no caminho para um processo mais eficiente.

 

No meio disso, a gente muitas vezes percebe que a forma mais simples é a mais eficiente. Por quê? Porque é a mais simples. É intuitiva, é elegante, se encaixa em diversas situações.

 

Hoje eu vou trazer um exemplo prático.

 

Eu atuei como professor de ciências no Ensino Fundamental, com turmas do sexto ao nono ano em escolas de comunidades carentes, aquela fase transitória entre a infância e a adolescência, onde hormônios explodem e spams de atenção implodem. Quem aqui já trabalhou em algum momento com algum forma de educação ou ensino já deve ter se deparado (algumas vezes) com o desafio que é conseguir e manter a atenção de uma "plateia" de 30 estudantes às 7h30 da manhã de segunda feira.

 

No meio disso, a gente se desdobra pra pensar qual é a forma que vai melhorar o engajamento dos estudantes, manter sua atenção e lhes ajudar a reter aquele conhecimento ou as habilidades que adquiriram dentro de aula. Já trabalhei com apresentação de maquetes, saídas ao ar livre, trabalho em grupo, pesquisa em sala de informática, uma série de coisas. Mas talvez a aula que inusitadamente mais deu certo na minha prática docente tenha sido uma boa e velha aula expositiva com muitos desenhos.

 

O tema da aula, para o sétimo ano, era anatomia vegetal (carinhosamente chamada de "as partes das plantas", pra não matar a criançada do coração).

Foto de Katerina Holmes no Pexels.

É um assunto denso, complicado, cheio de nomes e variações. Eu tinha trazido uma série de ilustrações, e inclusive animações de plantas crescendo, desenvolvendo flores, explicando como se movia a seiva dentro do caule e nos galhos, e que terminava numa dinâmica de perguntas e respostas entre a turma. Coisa linda e bem preparada com muito amor e carinho.

 

É óbvio que o projetor da sala havia estragado no dia anterior.

 

Passados os 30 segundos de frustração pelas 5 horas utilizadas montando uma hora e meia de aula, eu pedi pra turma abrirem o caderno e começar a copiar, e que faríamos o quiz no fim da aula. Não é exatamente meu método de ensino predileto, mas querendo ou não, escrever é uma forma de retenção bem eficiente (é só pensar como você fica perdido quando só confia na sua cabeça e não anota o que tem que fazer).

 

Giz em mão, eu decidi fazer um percurso ilustrativo no fantástico mundo das plantas. Ao invés de explicar parte por parte, eu comecei com o desenho de um... esporo. A unidade mais básica possível. A partir daquele primeiro ponto, começamos a criar a nossa plantinha. Quando esgotamos o grupo mais fundamental (os musgos, ou briófitas), começamos a sobrepor as evoluções para as samambaias, depois para as plantas com sementes e sem flores, e por último para as plantas com flores.

 

Apesar do assunto ser extremamente denso, eu percebi uma coisa: desenhar com os estudantes lhes dava tempo de absorver cada etapa, e também de elaborarem suas perguntas enquanto eu desenhava, o que acabou se estendendo por toda aula. Até mesmo aquele setor da turma que raramente prestava atenção (que eu carinhosamente chamava de jardineiros, porque viviam nos canteiros da sala) estava ali, focada e desenhando cada detalhe no caderno. Saber desenhar razoavelmente também ajuda, e assim como qualquer habilidade, é reforçada com o exercício.

 

Eles terem prestado atenção por si só já tinha sido bastante recompensador, afinal, não eram só as crianças acordadas numa segunda feira às 7h30, era eu também. Mas a verdadeira recompensa veio do relato de uma mãe, que havia ido num parque com a filha que era uma das minhas alunas.

 

Quando a mãe viu um pica-pau saindo do tronco de uma árvore, perguntou à filha se aquilo não poderia matar a árvore. Minha aluna explicou para a mãe que a parte interior da árvore era de células já mortas, que auxiliavam na sustentação da árvore, que a seiva corria pela casca e aquele tipo de interação entre plantas e animais era bastante comum. A mãe ficou encantada em aprender com a filha, e ela também ficou muito orgulhosa de poder ensinar a uma pessoa adulta sobre o que havia aprendido. Inclusive, ensinar é uma das melhores formas de aprender. No final do ano, quando nos despedimos, ela me disse que depois daquela aula, ciências havia se tornado sua matéria favorita, e que ela também queria ser bióloga quando crescesse para continuar aprendendo sobre plantas e animais.

 

O que poderia inicialmente ser frustrante, por ter que dar uma aula expositiva, acabou sendo uma grande lição para mim sobre simplicidade, e um momento marcante na minha carreira como professor.

Foto de Tima Miroshnichenko no Pexels

Percebam uma coisa. Fazer algo simples não implica em se dedicar menos a uma tarefa!

 

A aula certamente não surgiu espontaneamente. Nenhuma das horas de trabalho haviam sido desperdiçadas como eu senti inicialmente naqueles 30 segundos ao descobrir que não poderia dar a aula que tinha preparado.

 

Você pode decompor todo o processo em comportamentos empreendedores. Para agir diante desse obstáculo significativo, foi preciso todo o período de busca de informações sobre aquele tema e o planejamento daquela aula.

 

O interessante foi no meio desse processo, descobrir uma maneira mais eficiente para executar uma tarefa que eu já executava, e talvez ainda mais importante que isso, relembrar do significado da meta de ser professor, ao ver minha aluna mais motivada e encantada com a mesma ciência que a mim encanta.